Eventos traumáticos na formação das memórias

A maior parte do que você experimenta não deixa rastros em sua memória. Porém, a ligação entre trauma e memórias é algo que está diretamente ligado às nossas reações.

Por exemplo, aprender novas informações geralmente requer muito esforço e repetição — imagine estudar para uma prova difícil ou dominar as tarefas de um novo emprego. 

É fácil esquecer o que você aprendeu, e relembrar detalhes do passado às vezes pode ser um desafio. Porém, eventos traumáticos costumam ser revisitados por frequência e, em alguns casos, com uma grande riqueza de detalhes.

Por que isso acontece? É o que respondo no artigo abaixo!

Como reagimos aos traumas

Imagine enfrentar um perigo extremo, como ficar sob a mira de uma arma. Inegavelmente, sua frequência cardíaca aumenta, suas artérias se contraem, direcionando mais sangue para os músculos, que ficam tensos em preparação para uma possível luta de vida ou morte. 

Além disso, a transpiração aumenta, para resfriá-lo e melhorar a capacidade de preensão nas palmas das mãos e pés para maior tração e fuga. Em algumas situações, quando a ameaça é avassaladora, você pode congelar e não conseguir se mover.

As respostas às ameaças são frequentemente acompanhadas por uma variedade de sensações e sentimentos. Os sentidos podem se aguçar, contribuindo para a detecção ampliada e a resposta à ameaça. 

Você pode sentir formigamento ou dormência nos membros, bem como falta de ar, dor no peito, sensação de fraqueza, desmaios ou tonturas. 

Em seguida, seus pensamentos podem estar acelerados ou, ao contrário, você pode sentir falta de pensamentos e se sentir desligado da realidade. Terror, pânico, desamparo, falta de controle ou caos podem assumir o controle.

Essas reações são automáticas e não podem ser interrompidas depois de iniciadas, independentemente de sentimentos posteriores de culpa ou vergonha pela falta de luta ou fuga.

E quanto ocorrem esses eventos, a conexão trauma e memórias é ativada. 

Como surgem as memórias

Os pesquisadores acreditam que as memórias traumáticas são um tipo de resposta à ameaça condicionada. 

Afinal, para o sobrevivente de um acidente de bicicleta, a visão de um caminhão se aproximando rapidamente, semelhante ao que bateu nele, pode fazer o coração disparar e a pele suar. 

Para o sobrevivente de uma agressão sexual, a visão do agressor ou de alguém semelhante pode causar tremores, sensação de desesperança e vontade de se esconder, fugir ou lutar. Essas respostas iniciam independentemente de virem com lembranças conscientes do trauma.

As memórias conscientes do trauma se codificam por vários locais no cérebro que processam diferentes aspectos da experiência. Por exemplo, as memórias explícitas do trauma refletem o terror da experiência original. Por isso, são menos organizadas do que as memórias adquiridas em condições menos estressantes. Normalmente são mais vívidos, mais intensos e mais persistentes.

Fenômenos biológicos

As memórias são fenômenos biológicos e, como tais, dinâmicas. A exposição a pistas que acionam a recordação ou recuperação de memórias traumáticas ativa os sistemas neurais que estão armazenando as memórias. 

Por exemplo, isso inclui a ativação elétrica dos circuitos neurais, bem como os processos intracelulares subjacentes. As memórias reativadas são suscetíveis a modificações. O caráter e a direção dessa modificação dependem das circunstâncias da pessoa que relembra a memória. 

Além disso, a recuperação de memórias traumáticas implícitas ou explícitas geralmente está associada a altos níveis de estresse. Em resumo, os hormônios do estresse atuam nos circuitos cerebrais ativados e podem fortalecer a memória original para o trauma por meio de um fenômeno conhecido como reconsolidação da memória.

Existem estratégias clínicas para ajudar as pessoas a se curar de traumas emocionais. Um fator crítico é a sensação de segurança. 

A recuperação de memórias traumáticas em condições seguras quando os níveis de estresse são relativamente baixos e sob controle permite que o indivíduo atualize ou reorganize a experiência do trauma. É possível vincular o trauma a outras experiências e diminuir seu impacto destrutivo. A isso damos o nome de crescimento pós-traumático.

Cuide do seu emocional

Como fica claro, eventos traumáticos causam marcas profundas em nossa memória, e que se ativam pelos mais variados gatilhos. E em alguns casos, isso traz sérias consequências à pessoa que revive o evento.

Por isso, saber lidar com o trauma e memórias é uma parte importante no processo de tratamento do paciente. É um processo possível, e que com o tempo lhe devolverá a qualidade de vida necessária para que tais gatilhos não o afetem de forma tão intensa.

Em um vídeo postado no meu canal do Youtube, aprofundo esse tema do trauma e memórias, discutindo como os maus-tratos provocam danos cerebrais permanentes. É só dar o play abaixo!